"Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e
de repente você estará fazendo o impossível."
São Francisco de Assis



quinta-feira, 28 de julho de 2011

A Notícia

Suzana acompanhava o noticiário da TV com pesar. Uma jovem mãe de família, com trinta anos fora vítima de um assalto na última terça-feira, dia 15 de janeiro, quando saía do mercado.

Por um motivo torpe, besta até, o assaltante, um jovem menor de idade, depois de apropriar-se dos objetos de valor, acertou um tiro a queima roupa, deixando a mulher desfalecida.

O socorro não demorou em levá-la ao hospital, aonde chegou desacordada, era o que a repórter dizia com voz abafada, lamentando por mais um caso de violência na cidade.

Nauseada diante de tamanha tragédia, Suzana afastou-se do aparelho de TV fixo em uma parede branca em algum lugar desconhecido, caminhou deixando suas pernas a levarem aonde quisessem.

Passou por corredores vazios e agourentos, muitas portas fechadas e poucas janelas abertas, até que chegou.

Em um quarto que contava com a porta semi-aberta, ela entrou e viu aquela mulher do assalto deitada em uma maca, aparentemente morta, ao seu lado uma senhora segurava sua mão com os olhos marejados.

Suzana, minha Suzana, como puderam fazer isso com você minha filha? Era o que a senhora dizia alisando a mão da mulher que jazia inconsciente.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Lançamento de Livro


O lançamento da antologia da qual faço parte juntamente com Miguel Sanches Neto, Isabel Furini e outros autores será no dia 26/07, a partir das 19h00, no Palacete dos Leões na Avenida João Gualberto 530, em Curitiba.
A entrada será franca.
Quem desejar receber um convite é só enviar e mail para elaynesampaio@yahoo.com.br

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Espera

A Jovem Ana soltou a faca com a qual picava tomates no quiosque de praia para observar o homem de caminhar cansado que mais uma vez se aproximava das pedras para sentar e observar o fim de tarde.

Aquela rotina já havia sido notada por ela que há seis meses trabalhava no local e presenciava diariamente aquela cena em que o senhor com seus setenta anos caminhava lentamente pela areia, parecendo desfrutar a brisa com regozijo.

Intrigada decidiu naquela tarde se aproximar e puxar assunto. Sentiu-se um tanto desconfortável com a expressão do homem que não era de satisfação e sim de agonia, aflição.

- Boa tarde, aproximou-se.

- Boa tarde minha jovem. – Os últimos raios de sol refletiram nos cabelos brancos do homem.

- Sou a Ana do quiosque.

- Prazer Ana, sou o Luiz. – Ele sorriu um sorriso triste, melancólico.

Como se a conversa não deslanchasse, ela, na afoiteza da juventude, já foi logo extravasando a curiosidade. – Por que o senhor vem até esse lugar, todos os dias, no mesmo horário, fazendo sol ou chovendo?

- Estou esperando uma pessoa.

- Há mais de seis meses? – O sorriso que se soltou de seus lábios era lindo, porém desagradável para Luiz, que do alto da sabedoria dos seus muitos anos de vida, percebeu um contorno debochado.

- Muito mais do que isso...

- Por que o senhor faz isso? Essa pessoa não vai aparecer. – As ondas colidiram contra as pedras liberando uma cortina úmida e refrescante, afastando Ana de seu ceticismo.

- Eu sei, mas mesmo assim eu espero.

Luiz lamentou a falta de esperança da moça tão jovem e já sem perspectiva e contou sua história, sem pressa, apenas saboreando cada nuance vivida e experimentada diante daquele entardecer onde o sol brilhava como um holofote aceso no céu laranja.

- Há mais de quarenta anos conheci Isabel aqui nesse mesmo lugar. – Começou ele, passando a mãe suavemente sobre a superfície áspera da pedra. – Ela era linda, não foi difícil nos apaixonarmos e consequentemente, nos casarmos. Formamos uma família linda, com duas filhas amorosas, que hoje já nos deram netos.

- É essa Isabel que o senhor espera?

Luiz não respondeu, fitou o horizonte acompanhando o vôo gracioso de um pássaro e continuou a história como se não tivesse ouvido à pergunta. - Durante muitos anos esse foi nosso local predileto, nós nos encontrávamos aqui todo final de tarde, para apreciar o poente em silêncio, apenas curtindo um a presença do outro e os encantos da natureza, da nossa juventude e da nossa vida perfeita.

- O que aconteceu para que o senhor começasse a vir aqui sozinho, sem ela?

Luiz não gostava de expor a esposa com quem tinha tido tantos momentos de alegria durante uma vida plena de realizações. – Nós vivemos juntos por mais de trinta e oito anos, ela a esposa perfeita, amorosa, boa mãe, dedicada dona de casa e eu o marido fiel e trabalhador.

- Isso parece ótimo.

- E foi ótimo, até que há quatro anos Isabel começou a esquecer das coisas, a tomar atitudes estranhas e a não reconhecer mais as pessoas.

Luiz notou a descrença nos olhos da moça, dando lugar ao espanto. - O que aconteceu com ela?

- Fizemos todos os exames existentes, tudo o que pudemos para recuperá-la, mas já era tarde, ela estava em um estágio avançado de Alzheimer. – Ana fingiu não notar o embargo na voz do homem, mas o visível sofrimento dele a fez engolir em seco. – Quando iniciamos o tratamento, a memória dela já estava bastante afetada.

- Sinto muito. – A moça sentiu uma dor incomum ao engolir a própria saliva.

- Os problemas aumentaram e não tivemos mais como mantê-la conosco.

- O senhor a internou? – Ela sentiu uma náusea momentânea imaginando que a família de Isabel tivesse se livrado dela.

- Foi a única saída, então ela foi para uma clínica onde médicos e enfermeiros a acompanham diuturnamente. Nossas filhas a visitam todas as semanas e eu... – Luiz suspirou mais uma vez a brisa fresca, balançando a cabeça negativamente. – Eu a vejo todos os dias, todas as manhãs vou até a clínica, me apresento e converso com ela durante horas. Às vezes ela me dá atenção, às vezes não quer nem saber de mim e a maior parte das vezes parece nem me ver.

Ana estava confusa, por que alguém continuaria se esforçando tanto para fazer companhia a uma pessoa que sequer notava sua presença? - Ela nem sabe mais quem é o senhor. – Concluiu de forma dura.

Luiz encheu-se de orgulho pela esposa e respondeu - Mas eu sei quem ela é, e ela é a pessoa mais importante do mundo para mim, por isso continuo visitando e conversando com ela todas as manhãs e à tarde vindo para cá, na esperança de que ela possa se lembrar dos nossos momentos juntos aqui e possa aparecer, nem que seja para um último pôr do sol.

- O senhor sabe que isso não vai acontecer, ela não vai mais aparecer.

- Eu sei, mas ainda assim eu espero. – Os olhos marejados do homem comprimiram o coração de Ana dentro do peito. Observando-o mais de perto, pôde notar as feições abatidas de quem convive com a dor e o sofrimento por mais tempo do que deveria.

Ela estendeu sua mão para ele, no afã de oferecer consolo, mas Luiz sabia que quem precisava de consolo não era ele e sim a jovem moça bonita e sem esperança, sem uma história para viver.

Ele a abraçou, quando o sol já não os fazia mais companhia. – Adeus. – Disse ele.

- O senhor vai voltar amanhã?

- E depois, até que minhas pernas não me permitam mais essa caminhada.

Ana ficara comovida com aquela história de amor, e entendera que o fim daquela espera significaria o desaparecimento dos momentos até ali vividos por Luiz e Isabel. - Quando esse dia chegar, - Ana falou sem afobação. - o senhor me chama que eu o ajudo a chegar até aqui para esperar sua Isabel.

Luiz sabia que Isabel não apareceria, ela jamais se lembraria dos entardeceres que passaram juntos, mas estava feliz e realizado, tinha tido a chance de mostrar àquela jovem que um amor de uma vida não termina, ele se transforma...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Trilha sonora de uma paixão

CAPÍTULO 1 – Sonho?

Senti o pavor martelar em minhas veias, quando despertei. Não fazia idéia de onde estava, sabia apenas que tinha sido submetida a um abalo violento e que não tinha condições de discernir o motivo. As lembranças se debatiam sem cor em minha memória, o medo travando qualquer possibilidade delas alcançarem a cor novamente. Havia dor percorrendo meus membros e um gosto ácido ardendo em minha garganta.
- Helena, dezoito anos. – Repeti para mim mesma meu nome e minha idade, apenas para ter certeza de que ainda tinha alguma coerência.
Tentei me mexer, mas notei que estava caída sobre alguns entulhos e que alguma coisa estava pousada, nada gentilmente, sobre uma das minhas pernas. Em meus ouvidos havia um zunido, como se eles tivessem sido submetidos a um som muitos decibéis acima do tolerado.
Apesar da fumaça, que dificultava muito meu olfato e minha visão, registrei um odor forte parecido ao deixado pelos fogos de artifício depois de detonados em uma festa de Reveillon e, aos poucos, algumas formas foram se revelando aos meus olhos, foi aí que percebi que me encontrava em uma construção semidestruída, com sinais de uma implosão mal sucedida. Uma pequena parte da cobertura estava intacta, mas o restante parecia ter sido arrancado violentamente por uma força alienígena.
A desorientação tornava tudo ainda mais confuso. Eu não fazia idéia de que dia era, nem que hora. Parecia que tinha ficado desacordada por um longo tempo, mas essa era apenas uma suposição, já que não tinha certeza de nada.
Aos poucos, partes do meu corpo foram denunciando que eu não estava nada bem, havia muita dor e desconforto. Com algum esforço, consegui mexer meu braço e passei a mão pelo rosto. – Ai, - havia sangue ali.
Nada fazia sentido até aquele momento. Cheguei a fantasiar que estava sonhando, ou melhor, tendo um pesadelo, mas a dor era real demais para que aquilo fosse apenas minha imaginação.
Estimulei minha memória para tentar entender como tinha ido parar ali e por que, foi aí que as lembranças começaram a arder nitidamente e a lucidez a tomar o espaço antes dominado pelas dúvidas.

PRIMEIRA PARTE

OITO MESES ANTES...

CAPÍTULO 2 - Mudança

Eu mal podia esperar para chegar a Toledo. Não que achasse aquela cidade melhor do que Curitiba, onde eu morava, mas pela expectativa do que me esperava.
Sempre gostei de mudanças, achava que mudar era bom porque agente sempre encontrava pessoas diferentes, mas esta seria a primeira vez em que me mudaria para uma cidade tão distante.
Meu pai é oficial da Polícia Militar no estado do Paraná e agora que atingiu o posto de Tenente Coronel foi transferido para aquela cidade para comandar o 19º Batalhão.
Durante meus dezessete anos de vida sempre mudei bastante, mas sempre para cidades da região de Curitiba, agora eu estava indo para o outro extremo do Paraná. Eu sabia que sentiria falta da capital, dos shoppings, dos parques lindos que costumava freqüentar e até da praia que ficava sempre a menos de uma hora de onde eu já tinha morado. Agora, no entanto, eu estaria a aproximadamente seiscentos quilômetros do mar, não que eu freqüentasse assiduamente a praia, mas o fato de pensar na distância me fez achar que talvez fosse sentir falta dela um dia.
Aquela mudança não seria eterna, mas levaria pelo menos seis meses, até que voltasse para Curitiba para ingressar na faculdade, pelo menos era isso que eu tinha em mente quando resolvi me mudar com meus pais.
Meu pai, o Tenente Coronel Ricardo Conti, sempre falou muito sobre Toledo. Ele trabalhara lá logo no início da sua carreira, antes de se casar com a minha mãe, a doce Heloísa Conti. No início ele trabalhou lá como aspirante recém formado na Academia Policial Militar do Guatupê, mas agora estava indo comandar aquele batalhão que teria sido seu primeiro local de trabalho como oficial da polícia.
Em geral eu sempre gostava das histórias dele sobre aquela cidade, exceto quando tocava no assunto sobre uma namorada que havia tido e que quase o fizera fixar residência por lá. Eu não gostava dessa parte porque percebia que minha mãe ficava um pouco enciumada pela forma como meu pai se referia a tal moça que se chamava Ana Carolina Tomazzoli.
- Será que ela ainda estaria por lá? – era o pensamento que eu estava tendo quando meu pai parou o carro.
Nós viajávamos no carro do papai que era uma caminhonete não muito grande, nem muito nova, mas certamente mais espaçosa e mais confortável do que o Ford Ka da mamãe. Apesar da distância e da demora, a viagem estava sendo tranqüila e agradável na medida do possível. Não pude deixar de pensar no quanto gostava de ser filha única porque seria difícil ter que dividir o banco com mais alguém naquele momento.
- Por que paramos? – Perguntei. Em dias normais eu já era uma pessoa bastante ansiosa, mas quando estava me mudando para passar um tempo razoavelmente longo em uma cidade diferente, a minha ansiedade parecia ser potencializada.
- Calma querida. – Meu pai esticou os braços, ainda sentado em seu banco, mexeu a cabeça de um lado para o outro e depois disse com voz de cansado. – Eu preciso dar uma respirada.
Depois daquela parada, que levou cerca de meia hora em uma lanchonete que ficava ao lado de um posto de combustíveis, voltamos para o carro e seguimos com a viagem, que agora não iria demorar muito, conforme prometeu meu pai.
Aproveitei para admirar a paisagem. Fiquei hipnotizada por uns instantes observando os campos cobertos por plantações. Eram muitas cores, o verde da soja ainda se desenvolvendo, o amarelo do milho em sua fase adulta. Entre um tipo de plantação e outro surgiam pequenas ilhas de árvores onde sempre havia uma araucária, o pinheiro típico do nosso Estado. Esta é uma árvore cuja imponência é conhecida e mencionada em prosas e versos. Sempre mais alta que as demais, ela se destaca majestosa nos pequenos oásis de Mata Atlântica preservados nos campos paranaenses. Fiquei por um tempo admirando a beleza de tantas culturas diferentes até que me dei conta de que não conhecia a maior parte delas.
Mais algum tempo dentro do carro com meu pai e minha mãe, sendo seguidos por um caminhão com nossa mudança, finalmente chegamos à entrada de Cascavel, a maior cidade da região, que não distava de Toledo mais de cinqüenta quilômetros pela estrada.
Apesar de ser considerada o pólo econômico da região e o epicentro do Mercosul, conforme consta no portal do município que visitei na internet, a cidade de Cascavel não parecia um local muito agitado. O movimento de veículos era menos intenso do que em Curitiba e o fluxo de pedestres era menor. Pelo que pude observar à distância o centro era grande, com alguns prédios esparramados. Torci para que houvesse pelo menos um lugar interessante para freqüentar, não podia imaginar o Jefferson sem pelo menos uma saída noturna por semana.
O Jefferson é meu melhor amigo, nós nos conhecemos desde sempre e estamos juntos em todos os momentos. Agora que eu estava me mudando para uma cidade tão distante, as coisas não poderiam ser diferentes. Ele viria de carro para Toledo em alguns dias para ficar na minha casa durante o tempo em que eu ficasse aqui e depois voltaríamos juntos para a faculdade em Curitiba.
Eu esperava que não houvesse nenhum problema de adaptação para ele nessa nova cidade como já teve em alguns lugares onde morou. Jefferson é um jovem de dezoito anos, muito bonito, muito inteligente e muito bem humorado. Todas essas qualidades facilitariam para que ele fosse bem aceito, contudo, ele era de orientação homossexual e sofria muita discriminação. Ele dizia que não se importava, mas eu sempre percebia uma sombra de tristeza em seus olhos quando alguém fazia algum comentário preconceituoso contra ele. Eu sempre tive um forte instinto de proteção em relação ao Jeff, mas evitava interferir porque percebia que ele não gostava.
Quando chegamos a Toledo, depois de pouco mais de oito horas de viagem, pareceu que eu já conhecia aquele lugar.
Toledo é uma cidade que possui mais de cento e dezesseis mil habitantes. Sua economia agroindustrial conta com a participação do maior frigorífico de suínos e aves da América latina, além de mais de quinhentas e cinqüenta indústrias. A cidade é conhecida como um importante pólo gastronômico por ser o local onde se realiza a famosa festa do porco no rolete. Além da gastronomia, Toledo possui muitas belezas naturais, tudo bem estudado no site da prefeitura na internet. Existem saltos, cachoeiras, trilhas ecológicas, o Parque Diva Paim Barth, o horto florestal e diversos outros atrativos, os quais eu pretendia conhecer quando Jefferson chegasse.
Chegamos à cidade através da BR 467 e logo na entrada pude perceber que aquela era uma cidade em desenvolvimento, com muitas construções em andamento, mas que ainda mantinha um ar de cidade do interior com pessoas sentadas em cadeiras colocadas nas calçadas, mantendo conversas animadas, algumas crianças brincando com suas bicicletas em plena avenida, outras soltando pipa. Pareceu muito agradável morar ali. Eu que nunca fui muito afeta a ambientes muito agitados, estava achando que iria me adaptar bem àquele lugar.
Para chegar à casa que papai alugara para nós tivemos que atravessar o centro da cidade. Não tivemos muita dificuldade porque o trânsito não era muito intenso. Enquanto circulávamos por ruas asfaltadas e bem arborizadas pude reparar que a cidade era plana, mas concentrada. Alguns prédios destacavam-se em meio às muitas casas, mas nem de longe se pareciam com os que eu via em Curitiba, nem pela modernidade e nem na quantidade. A terra era vermelha, o que deixava algumas construções meio sujas na parte inferior, com uma coloração que me lembrou a areia tingida que decorava um copo que meu pai havia ganhado de um amigo Cearense. O clima era abafado e bem mais quente do que eu esperava. Nós estávamos no início do mês de dezembro e o verão ainda não havia chegado oficialmente, mas o calor já mostrava todo seu potencial.
Após alguns minutos entramos em um bairro totalmente residencial, com casas simples, mas bem cuidadas, e jardins de tirar o fôlego.
- Chegamos. – Disse papai animado, ajeitando-se no banco do motorista.
- Que bonito aqui meu bem. – A mamãe elogiou o lugar enquanto olhava entusiasmada pela janela.
- Qual dessas é a nossa casa? – Perguntei impaciente.
- É aquela. – Papai ergueu o braço e apontou na direção de uma casa com uma grade branca na frente.
Quando paramos em frente ao portão pude ver uma casa agradável. A cor da casa toda era um tom suave de salmão. Os contornos das portas e janelas eram brancos. Ela era rodeada por uma varanda com arcos e nas janelas havia floreiras repletas de begônias coloridas, o que a deixava com um ar de casa de bonecas. O jardim, como não poderia deixar de ser, era muito bem cuidado. Havia nele muitas flores plantadas em círculos delimitados por pedrinhas brancas. Pude notar que a grama fora muito bem plantada e cultivada, pois ela crescia verde e sem a presença de mato.
- A casa é bem legal. – Eu disse em um tom animado.
- É realmente muito bonita. – Disse a mamãe.
Quando entramos, percorri todos os cômodos percebendo o quanto a casa estava bem conservada, inclusive os móveis que haviam ficado nela, estavam em um excelente estado. No quarto que escolhi para ser meu faltava apenas uma cama, pois os demais móveis já existiam e estavam perfeitos. Um guarda-roupas de seis portas branco colocado no canto direito serviria perfeitamente para que eu colocasse minhas roupas e ainda sobraria espaço. A cômoda era espaçosa o suficiente para minha TV e meu som, que estavam chegando com a mudança.
Até a janela já tinha uma cortina que combinaria perfeitamente com a colcha que eu estava trazendo. O banheiro era pequeno, mas bem decorado. Os azulejos tinham um tom suave puxando para o verde claro. O armário era pequeno e havia uma luz sobre o espelho que seria muito útil.
O restante da casa também era bem interessante. O piso, igual em toda a casa, era cerâmico quase branco que de imediato gostei pelo fato de ser mais adequado ao clima quente da região. Percebi que o quarto de hóspedes era apropriado para o Jeff e também já estava praticamente mobiliado.
- O que está achando da casa meu bem? – Perguntou papai, enquanto deixava as primeiras malas no chão da sala principal.
- É bem legal, acho que vou gostar muito daqui. – Eu disse entusiasmada e ele gostou da minha animação. – A cidade também me pareceu interessante, depois vou dar umas voltas por aí.
Passamos as últimas horas do dia arrumando as coisas nos armários disponíveis na casa e planejando as compras dos demais móveis.
O dia seguinte foi bem tranqüilo, terminamos de arrumar as coisas e saímos para comprar alguns móveis para completar a casa. Todos bem simples e de um gosto questionável, mas que serviriam para nossa estada ali. Depois de tudo resolvido saí a pé pelo bairro para fazer um breve reconhecimento. O lugar me pareceu tranqüilo, com uma vizinhança gentil e amistosa.
Nos dias seguintes já estava reconhecendo algumas pessoas e nomes de ruas pelas quais eu passava com mais freqüência, seja para ir à panificadora, seja para ir à praça apreciar o movimento.
Meu pai mal chegara e já entrara de cabeça no trabalho, então eu passava os dias com minha mãe, enquanto esperava pela chegada do Jeff.
Quando ele chegou de carro, alguns dias após a nossa chegada, nós já estávamos perfeitamente instalados. Ele adorou tudo o que viu, só ficou preocupado se haveria algum lugar para sair à noite, como eu previra.
Esclareci a ele que provavelmente nossas saídas deveriam ser em Cascavel porque Toledo era muito pequena e tinha poucas opções de lazer noturno, ele ficou mais aliviado e quis saber mais sobre o que eu já tinha visto na cidade.
Passamos o restante daquele dia conversando e fazendo planos para os próximos.

CAPÍTULO 3 – Amor à primeira vista...

Já havia passado uma semana, e o Jeff estava doido para conhecer a vida noturna de Cascavel, já que em Toledo estava claro que não acharíamos nenhuma casa noturna nos moldes que ele procurava.
- Honey, o que acha de darmos uma saidinha hoje? – Jeff parecia ansioso, andava de um lado para o outro com as mãos na cintura enquanto falava.
- Claro, vamos para Cascavel?
- Yes, o que acha de tentarmos achar um Karaokê? – Ele passou a mão pelos cabelos imitando o Elvis e fez pose de Pop star.
- Legal, você sabe que sou tímida para cantar, mas quero ouvir você. – Ele passou a mão pelo cabelo novamente, deslizando os dedos abertos por dentro dos fios grossos e levemente ondulados dizendo – Sinto que vou arrasar essa noite.
Nunca fui muito talentosa quando o assunto era lidar com público, mas gostava de admirar quem sabia manipular um microfone e o Jeff fazia isso como ninguém.
Ao entardecer pegamos o Peugeot 206 prata dele e seguimos rumo a nossa noitada na cidade vizinha. Chegando a Cascavel percebi que ele já sabia aonde queria ir. Desconfiei de que ele já tivera estudado cada casa noturna da cidade no Google.
- Chegamos. – Disse ele, desligando o motor e apagando as luzes do veículo.
- Como sabia aonde vir? – Perguntei só para ter a confirmação da minha desconfiança.
- Eu pesquisei na internet hoje e achei o endereço desse Karaokê que pareceu legal. – Ele me olhou e ergueu as sobrancelhas de forma divertida.
Já gostei do ambiente ao entrar. Era uma casa antiga, com várias salas pouco iluminadas e uma maior com um palco onde se encontravam dois microfones. Nas demais salas havia TVs onde eram exibidas as músicas que estavam sendo cantadas no palco. Quando entramos já havia bastante gente no local, algumas pessoas estavam se preparando para cantar e outras ainda pareciam buscar coragem. A freqüência me pareceu interessante, apesar de eu ter olhado pouco, pois mantive meus olhos quase no chão como de costume.
Sentamos a uma mesa no canto da sala onde tinha o palco e logo um rapaz de estatura baixa e cabelos pretos veio nos atender.
- Já conhecem a casa? – Perguntou gentilmente o garçom.
- Ainda não, hoje é a nossa primeira vez. – Respondeu Jeff da forma mais animada que eu já vi, enquanto ainda se ajeitava na cadeira.
O rapaz esclareceu o procedimento quanto ao Karaokê e nos desejou uma boa noite de diversão.
Nestes dias em que saíamos para algum lugar pela primeira vez, Jeff ficava o mais contido possível e “vestia a armadura de bofe” como ele mesmo costumava dizer, apenas para avaliar o local. Para mim era meio estranho porque nenhum garoto olhava, já que todos achavam que eu estava acompanhada, mas, na verdade, isso não me importava muito, já que não me achava muito capaz de atrair olhares.
Nunca fui muito bonita, apenas tinha certo charme e um cabelo que sempre me ajudou bastante, pois era comprido e levemente cacheado, o que às vezes me dava alguma vantagem, mas era só. Eu me achava comum. Meus cabelos e olhos castanhos não se destacavam muito, em especial em Curitiba, com todas aquelas moças loiras e lindas. Eu nunca consegui identificar com quem era mais parecida na minha família, pois meu pai era muito bonito com seus olhos verdes, a pele levemente bronzeada e os cabelos castanhos claros e a minha mãe tinha um cabelo loiro comprido e olhos cor de mel que combinavam muito com sua pele clara.
- E aí, já está pronto para cantar? – Perguntei cutucando discretamente o braço do Jeff.
- Sempre honey. – Me lançou um sorriso, levantou uma sobrancelha e foi.
Enquanto Jeff se levantava para iniciar seu show de estréia naquele palco, eu me colocava de forma mais confortável na minha cadeira para assisti-lo. Ele seguiu até o microfone, ajustou alguns botões no aparelho de karaokê e então a música iniciou. Essa era a música que eu mais gostava de ouvi-lo cantar.

- When the night has come / And the land is dark - And the moon is the only light we'll see / No I won't be afraid, no I won't be afraid / Just as long as you stand, stand by me…

Stand by me do John Lennon ficava realmente linda em sua voz rouca e melodiosa. Eu sempre o acompanhava aos Karaokês e ele sempre fazia a diferença. Hoje estava especialmente lindo e divertido, com uma calça de brim preta e uma camiseta de mangas longas gelo. Seu cabelo naquela arrumação desajeitada brilhava no escuro por causa das mechas douradas.
Ele estava cantando com todo o seu talento no palco e eu o acompanhando da minha cadeira cantando de cor a canção, pois sabia a letra da música inteira, até que ele me olhou e com a cabeça fez um gesto para que olhasse uma mesa que estava à minha direita.
Sem entender bem, olhei discretamente e vi uma mesa com três rapazes sentados. Um pareceu um pouco mais velho que os demais. Era meio gordinho, tinha cabelos escuros, quase negros, que contrastavam com sua pele muito clara. O mais magro de todos era também o mais desajeitado. Tinha um cabelo muito claro, quase branco e a pele era quase transparente, o corte do cabelo era meio antigo, mas eu acho que ele o mantinha daquele jeito, pois não haveria outra forma de cortar aquela cabeleira lisa e clara. Enquanto estes dois acompanhavam o show no palco, o terceiro me olhava ardentemente. Era um rapaz com seus vinte e poucos anos, cabelos castanhos, bem curtos, quase raspados, a pele bronzeada e uma barba não muito espessa por fazer. Parecia mais alto que os demais e mais forte. Pelo pouco que pude observar à luz fraca do ambiente, ele era muito bonito. Quando percebeu que eu estava olhando, me lançou um sorriso atraente, imediatamente abaixei os olhos timidamente e depois olhei para o Jeff que agora sorria como que me incentivando a retribuir o sorriso.
Esperei um pouco pensando em como agir, meu coração aos sobressaltos, fazendo estremecer minhas bochechas. Eu não era muito experiente no assunto, então, com o sangue pulsando pesadamente em minhas veias, olhei novamente para o Jeff e sem muita coragem virei os olhos, mas não achei o rapaz, apenas seu colega mais magro me encarando de forma intrigada. De certa maneira respirei aliviada por não ter de enfrentar uma paquera naquele momento, meu coração voltou a sua cadência normal, acompanhado pela respiração, voltei os olhos ao Jeff que agora terminava a canção.
Quando Jeff sentou-se, já foi logo me recriminando:
- Honey, porque você não se jogou para cima daquele bofe maravilhoso que estava te engolindo com os olhos? – Ele falava baixo, mas com seriedade na voz.
- Você sabe que eu não levo jeito para estas coisas.
- Por favor, honey, não me derruba do patinete! Que mistério pode haver nisso? – Agora ele já estava acomodado, com os cotovelos apoiados na mesa e segurando o queixo com as mãos cruzadas.
Enquanto eu ouvia o sermão do meu amigo sem conseguir me defender, de repente alguém iniciou uma nova canção. Era She´s like the wind, do Patrick Swayze. Antes de olhar quem cantava, me permiti absorver aquele som, aquela voz. Seja lá quem estivesse cantando, estava sendo simplesmente perfeito. Inconscientemente comecei a acompanhar a letra da música que eu também conhecia bem. Nunca entendi porque gostava tanto das músicas mais antigas, minhas músicas preferidas eram aquelas dos anos 70 e 80. Fiquei ali, de olhos fechados, acompanhando anestesiada aquele som. Era simplesmente contagiante. Quando resolvi olhar o palco fiquei maravilhada...
- Jeff...
- Eu sei honey, é o bofe maravilhoso, e ele é muito bom.
Mantive meus olhos nele, agora sem nenhuma timidez, mas com muita admiração e percebi que ele também não tirava os olhos de mim. Parecia que ele estava realmente cantando para mim. Um leve tremor percorreu meu corpo, meu sangue latejava quente em minhas veias, senti que estava corando.

- She's like the wind through my dreams / She rides the night next to me / She leads me through moonlight / Only to burn me with the sun / She's taken my heart, / (But) she doesn't know what she's done …

Era simplesmente inebriante ouvir aquela melodia cantada com tanta intensidade. Fiquei de boca aberta por um tempo e depois fechei os olhos e comecei a acompanhar a letra da música cantarolando apenas para mim mesma. Quando a música estava chegando ao seu final, abri novamente os olhos e ele continuava a me encarar.
A música terminou e ele desceu do palco começando a caminhar na direção da minha mesa. Ele caminhava de forma muito ereta, quase como se estivesse marchando. Seus olhos, sempre colados aos meus, eram brilhantes e muito sedutores. Fiquei hipnotizada acompanhando seus movimentos e não acreditando no que estava por acontecer. Senti meu rosto esquentar. Tentei pensar em algo rapidamente, mas antes que eu pudesse esboçar qualquer reação que o intimidasse, Jeff já havia se levantado e estava sumindo em uma direção desconhecida.
- Posso me sentar? – O rapaz perguntou ao chegar ao meu lado.
Ele era alto, tinha um corpo atlético que estava levemente à mostra por baixo de uma camisa branca de uma marca famosa que estava com as mangas dobradas até a altura do cotovelo. Seus olhos eram claros, não consegui ter certeza no escuro, mas tive a impressão de serem verdes.
- Não sei se você deveria, pois estou acompanhada. – Disparei essa para cima dele e depois fiquei me perguntando por que eu era tão idiota.
- Não acho que seu amigo vá se importar. - Ele frisou bem a palavra “amigo”.
Com um pouco de má vontade, fiz um sinal para que ele se sentasse.
- Como sabe que meu acompanhante é só meu amigo?
- Ele não deve ser seu namorado, como ele poderia ficar a noite toda ao lado de uma jovem tão deslumbrante e sequer tocar nela? E convenhamos, não acredito que ele esteja realmente interessado em você ou em qualquer outra garota daqui.
Eu estava surpresa, como ele podia ser tão observador? E, do que ele havia me chamado mesmo? Jovem deslumbrante? Eu acho que ele não estava se referindo a mim verdadeiramente ou talvez a falta de luz do local estivesse me sendo muito generosa.
- E então, - começou ele - me chamo André, muito prazer. Será que eu posso saber seu nome? – Ele falava calmamente. Tinha uma voz de veludo, não só cantando, mas falando também.
Ele parecia um rapaz jovem, mas sua forma de se expressar era tão formal que parecia que tinha uns quarenta anos e estava conversando com o chefe.
- Oi, meu nome é Helena e o prazer é meu. – Falei devagar com medo de me enrolar, já que estava tremendo e não queria que ele percebesse. – Você canta muito bem e escolheu uma música ótima.
- Obrigado. Eu gosto muito de músicas antigas e percebi que você também deve gostar porque acompanhou a música que seu amigo cantou e ela também era bastante antiga. – Enquanto ele falava, sua boca se movia tranquilamente e suas sobrancelhas grossas se juntavam, formando uma ruguinha divertida em sua testa.
- Você é muito observador. – Eu fui obrigada a confessar, pois estava realmente admirada.
- Eu preciso ser por causa do meu trabalho.
- O que você faz?
- Prefiro deixar isso para lá, vamos falar sobre algo mais interessante. Você não parece ser daqui. - Ele escorregou na cadeira para ficar mais próximo de mim.
- Não, cheguei há poucos dias, na verdade sou de Curitiba. – Achei estranho ele não querer falar sobre o trabalho, mas preferi deixar passar essa pergunta para não estragar o clima. – Seu inglês é muito bom.
- Obrigado, estudei durante alguns meses no Canadá para adquirir uma fluência melhor. Só com o curso que eu tinha feito não estava bom, então resolvi me aprimorar.
Nisso ele estava certo, porque estudei durante anos em escolas de inglês em Curitiba e jamais consegui ter fluência na língua. Eu entendia muito bem, mas na hora de falar...
- Você é daqui? – Perguntei.
- Sou de uma cidade próxima, mas passei alguns anos em Curitiba estudando e voltei há alguns meses.
A conversa estava fluindo de forma bastante interessante. Ele era surpreendentemente gentil e atencioso. Prestava muita atenção em tudo o que eu dizia, mas falava pouco e parecia meio misterioso. Se ele não fosse tão bonito, eu teria dado um jeito de afastá-lo, mas não conseguia, seu olhar me atraía cada vez mais e eu não conseguia tirar meus olhos de seus traços perfeitos.
Ficamos conversando por um longo tempo, falamos de música, lugares que gostaríamos de conhecer, baladas interessantes. De tempos em tempos ele olhava na direção da mesa em que estava sentado antes e sempre encontrava os olhos de um de seus amigos nos encarando.
- Seus amigos estão nos olhando.
- Não são bem meus amigos, nós trabalhamos juntos e eles me trouxeram aqui hoje para me mostrar o lugar.
- Também é a primeira vez que você vem aqui?
- Neste Karaokê sim, mas eu sempre freqüento muito este tipo de lugar, adoro cantar.
Já estávamos conversando há bastante tempo quando Jeff resolveu aparecer.
- Boa noite - disse ele com um ar brincalhão.
- André esse é o Jeff, meu amigo. – Olhei para ele com uma expressão de reprovação que ele já conhecia bem.
- Muito prazer. – Ele fitava o Jeff como se estivesse tentando descobrir mais alguma coisa sobre ele.
- Helena, acho que está na hora de irmos. – Eu não tinha reparado que o dia já estava quase amanhecendo.
- Claro Jeff. – Me levantei sem nenhuma vontade enquanto André ainda me encarava. Percebi que não queria que aquele encontro acabasse daquela forma, então retribuí o olhar de forma suplicante, esperando que ele ao menos pedisse meu telefone, mas ele fez algo a mais, levantou-se, segurou minha mão próxima ao seu coração e sem tirar os olhos dos meus perguntou:
- Você acredita em amor à primeira vista?
Minhas pernas amoleceram e uma ventania se formou em meu estômago. Não consegui responder nada, apenas fiquei olhando incrédula até que ele prosseguiu.
- Eu não acreditava até hoje, até ver você. – Minha respiração ficou acelerada e tentei disfarçar para que ele não percebesse. Em um gesto demorado ele soltou minha mão e se aproximou para me beijar a face. Congelei imediatamente, o beijo demorou alguns segundos e então ele continuou. – Coloquei um papel em seu bolso com o número do meu telefone, por favor, me liga, não quero te perder de vista.
Sem dizer nada me virei para o Jeff e nós saímos em direção ao estacionamento. Fomos em silêncio até chegar ao carro, mas quando entramos, ele se virou para mim e soltou um grito que mais parecia um uivo.
- Darling, o que foi aquilo? Aquele deus grego era tudo. Você vai ligar para ele.
Enquanto Jeff falava, eu mal conseguia sentir as pernas, que ainda estavam bambas, por tudo o que eu acabara de ouvir. Lentamente coloquei a mão no bolso e achei o papel, nele estava o número do telefone dele e a frase: “Me liga, por favor.”
- Jeff, ele colocou um papel no meu bolso e eu nem senti. Ele não quis falar sobre o trabalho dele e ele é muito misterioso. Estou com medo. O que você acha que tenho que fazer?
- Você tem que ligar para ele, of course. Você liga e marca um novo encontro, mas já avisa que não estará sozinha. Vamos ver qual vai ser a reação dele.
- Não sei se vou ligar. Ele é muito bonito para mim e ele me chamou de jovem deslumbrante. Não acho que ninguém ache isso de mim. Está tudo muito estranho.
- Honey, não me derruba do patinete... – Quantas vezes eu já te disse que você é linda e muito interessante?
- Mas você não conta, você é meu melhor amigo.
Jeff ainda estava decepcionado com a minha baixa auto-estima quando paramos em frente à nossa nova casa. O dia estava quase amanhecendo, mas eu não sentia sono, percebi que estava eufórica demais para isso. Fui para meu quarto, sem nenhuma vontade, tomei um banho bem demorado e aproveitei para organizar minhas idéias.
Tudo aquilo parecia irreal demais para mim. Primeiro um rapaz lindo me encarando em uma balada, mesmo eu estando acompanhada do Jeff. Depois aquele mesmo rapaz cantando para mim uma das músicas mais românticas que eu conheço e, por fim, me dizendo que tinha passado a acreditar em amor à primeira vista depois de me conhecer. Ou os rapazes de Cascavel eram muito brincalhões ou eu estava enlouquecendo. – Não vou ligar, pensei. Eu não podia ligar, aquilo com certeza não passaria de uma piada de mau gosto.
Não pude deixar de entristecer ao pensar nesse assunto, porque eu, romântica do jeito que sempre fui, sonhava com um encontro daqueles.
Cansada de pensar nisso deitei um pouco e acabei adormecendo.